A MORTE E A DONZELA
AMY LOWELL (E.U.A., 1874-1925)
GROTESCO
Porque é que os lírios me deitam a língua de fora
Quando os corto;
E se torcem e contorcem
E se estrangulam entre os meus dedos,
Ao ponto de mal conseguir tecer esta grinalda
Para o teu cabelo?
Porque é que gritam o teu nome
E me cospem
Quando os tento juntar?
Terei de os matar
Para que fiquem quietos,
E enviar-te uma coroa de cadáveres suspensos
Que murchem e apodreçam
Na tua testa
Enquanto dansas?
*
ANTONIA POZZI (Itália, 1912-1938)
NOVEMBRO
E depois – quando eu partir
restará alguma coisa
de mim
no meu mundo –
restará um fino rasto de silêncio
no meio das vozes –
um ténue sopro de branco
no coração do azul –
E numa noite de Novembro
uma menina frágil
à esquina de uma rua
venderá braçadas de crisântemos
e lá estarão as estrelas
gélidas verdes distantes –
Alguém chorará
em algum lugar – em algum lugar –
Alguém irá procurar crisântemos
para mim
no mundo
quando sem regresso
eu tiver de partir.
*
ALEJANDRA PIZARNIK (Argentina, 1936-1972)
CAPÍTULOS PRINCIPAIS
Chega a morte com o seu rebanho de ossos
sorrio submissa a uma menina idiota
que implora em meu nome
juntas (a morte, a menina e eu)
não encontramos outro trabalho senão odiar
No final todos se casam:
o mar e as ondas,
a noite e o escuro,
o copo e o vinho,
o anel e o dedo,
a morte e o cadáver.
Poemas escolhidos/traduzidos por Inês Dias,
aqui compostos/impressos por Luís Henriques e Manuel Diogo
aqui compostos/impressos por Luís Henriques e Manuel Diogo
5 comentários:
Desculpa, Inês, isto não é um comentário, não tenho outra forma de dirigir-me a ti. "Enquanto dansas?" em "Grotesco" e em "Anjos apaixonados","(...)Quando os anjos se apaixonam dansam (...)", não será danças e dançam? Não leves a mal, que é com a melhor das intenções. Ricardo
É mesmo assim, Ricardo :)
«A única palavra portuguesa cuja ortografia precisa de ser mudada é dança, que se deve escrever com ‘s’, como era antes, porque o ‘ç’ é uma letra sentada, uma letra pesada. Escrevo com ‘s’, mas há sempre o desastre de os tipógrafos ou as pessoas que me passam os textos à máquina acharem que é um erro e emendarem para ‘ç’...»
- Sophia M. B. Andresen
in DN, 24-11-94
E um beijo.
Um humilde obrigado! Bjs
Nunca me imaginei a dizer isto: que máquina linda! Parabéns!
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