Não tenho palavras, nem entendo
formas visíveis.
Elas vêm concretas como aragem
a que dou nome.
Tenho-me, eis tudo. Acontece.
Há uma folha que desce,
que sobrenada, que desce,
que submerge no ar e depois desce
longe de mim no ar fundo.
Nós não somos deste mundo.
Fresca e limpa como a chuva,
ouço a tua voz cantada
descer do céu ao silêncio
que vem da terra molhada.
Nós não somos deste mundo.
Ouso dizer-te o meu nome
como quem se atreve a dar-te
a minha imagem.
Nós não somos deste mundo.
O que não vejo, entendo.
Pelos rios do meu sangue,
atrevo-me.
Anoitecendo, a vida recomeça.
Dou-me em palavras
que ressuscitam.
Algures no céu amanhece.
Só, intranquilo, pela vereda, desce
o nómada meu amigo.
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