domingo, 18 de outubro de 2015

C de "celui qui regarde une fenêtre fermée" (IV)


INFÂNCIA


I

Terra
sem uma gota
de céu. 


II

Tão pequenas
a infância, a terra.
Com tão pouco
mistério. 

Chamo às estrelas
rosas.

E a terra, a infância,
crescem
no seu jardim
aéreo.


III

Transmutação 
do sol em oiro.

Cai em gotas,
das folhas,
a manhã deslumbrada.


IV

Chamo
a cada ramo 
de árvore 
uma asa.

E as árvores voam.

Mas tornam-se mais fundas
as raízes da casa,
mais densa
a terra sobre a infância.

É o outro lado
da magia. 


V

E a nuvem
no céu há tantas horas,
água suspensa

porque eu quis,
desmorona-se e cai.


VI

Céu
sem uma gota 
de terra.


Carlos de Oliveira
in A Perspectiva da Morte, sel. de Manuel de Freitas,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2009




[ID, Lx, ontem]

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