RUA DOS CAVALEIROS DA ESPORA DOURADA
Para a Ginja
Imagino-os sempre
de olhos cegos,
de quem correu o mar
e aprendeu outra cor
para o mesmo sangue
– gridelém.
Não se apressam.
O coração mais fielmente negro
parou entretanto de bater,
deixando-lhes o peso
do seu embalo nas mãos vazias;
e trazem colada ao corpo
a cal da memória
– raparigas com cabelo de linho,
olhos de esmalte.
Chamam cada onda
pelo seu nome,
agora que todas elas são cinza
de lume familiar.
Tornaram-se veladores,
guiados pelo desatar invisível
da água nessa longa noite
– mortos ainda à procura
do calor de um gato.
Inês Dias
in AA.VV., Sete, volta d' mar, 2018
in AA.VV., Sete, volta d' mar, 2018
[Inês Dias, Ponto-Sombra, São Paulo, Corsário-Satã, 2018]
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