sábado, 9 de novembro de 2019

A de Amor (XXIX)


CONFIAR


Tenho tanta fé em ti. Sinto
que saberei esperar a tua voz
em silêncio, durante séculos
de escuridão.

Tu sabes todos os segredos,
como o sol:
poderias fazer despontar
os gerânios e a flor de laranjeira
no fundo das pedreiras,
das prisões
lendárias.

Tenho tanta fé em ti.  Estou tranquila
como o árabe, que
envolto no seu manto branco
escuta Deus amadurecer-lhe
a cevada à volta da casa.


Antonia Pozzi, Morte de uma Estação,
2.ª ed. rev. e aumentada, sel. e trad. de Inês Dias,
desenhos de Débora Figueiredo, prefácio de José Carlos Soares
e arranjo gráfico de Pedro Santos, Lisboa, Averno, 2019



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