sexta-feira, 23 de abril de 2021

C de Começar o dia com um livro novo (LVIII)

 

TURECK, 1956


Lentidão. Ou quase,
para quem sabe o veludo
de sofrer. Lembrar o amor
é agora apenas isso:
uma folha de amoreira
que te vi pousar no ombro.
Eu falava, escrevia até,
sobre Gould e Ross,
como se houvesse um sítio
permeável à paixão.

Procura-se
ainda
jovem canadiano.
Costumava ler poemas
em frente ao Museu Vieira da Silva. 
Por volta das seis da tarde.

Hoje, que chove tanto,
denuncio as perfídias do Outono,
esqueço em cada verso
os lentos, os velozes dedos:
Allemande, escurecendo.


Manuel de Freitas, Büchlein Für Johann Sebastian Bach, 2.ª ed. rev., 
com capa e arranjo gráfico de Luís Henriques,
Lisboa: Alambique, 2021




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