terça-feira, 2 de novembro de 2010

O de Outono (VI)

Vou subindo por uma escarpa
Que vai ter à mansão divina.
Em cada corda da minha harpa
Canta uma estrela vespertina.

Em meio de luzes tantas,
Que sempre refulgirão,
Vejo astros às minhas plantas
E colho estrelas com a mão.

Quantos sublimes resplandores
Cintilam castos no meu peito!
São os responsos precursores
Da paz do meu último leito.

Minh’alma é árvore deserta
Que o Outono vem desfolhar.
Quando o sonho me desperta,
No meu peito canta o luar…

O Inverno passa, a primavera
Esconde-se entre alas de lírios:
Mas a minh’alma sempre espera
Dores novas, novos martírios.

Tudo me é sonoro e suave:
Emperolado de sol,
Bate as suas asas de ave
No meu peito de rouxinol.

As minhas ilusões são rosas
Esfolhadas por mãos celestes;
São como brisas silenciosas
Entre alamedas de ciprestes.

No campanário onde me acho,
Entre cítaras de luar,
Contemplo a lua debaixo
Da minh’alma, a soluçar…


ALPHONSUS DE GUIMARAENS

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