(a Carson McCullers)
"Uma árvore, um rochedo, uma nuvem"
Carson McCullers moribunda ou recém-nascida
cessou de respirar sem alcançar a ciência?
Um velho, a criança, o café ambulante,
na madrugada da América o amor da cerveja,
e a mulher fugitiva dentro do velho
a entrar devagar pelos olhos da criança
"Uma árvore, um rochedo, uma nuvem"
"o sorriso era vivo. - Lembra-te de que te amo"
Eu serei aquele velho e tu a brancura,
a neve suspensa, à noite, sobre a cama,
quando o recordar-te para não morrer
for a única tarefa na solidão do poema
E direi como ele à criança d'alva:
"Sabes como o amor devia começar?"
"Sabes como o amor devia começar?"
(E nem alegria nem tristeza no meu rosto:
Um navio em dia de canícula
através do lago dos peixes dourados,
uma chuva miudinha, uma letra infantil
que salpica os painhos pousados nos mastros):
"Uma árvore, um rochedo, uma nuvem"
António Barahona, Eunice,
Lisboa, Ed. do Autor, 1970
Lisboa, Ed. do Autor, 1970
à memória de Carson McCullers
Uma árvore, um rochedo, uma nuvem
Carson McCullers moribunda ou recém-nascida
cessou de respirar sem alcançar a ciência?
Um velho, uma criança, um café ambulante,
na madrugada da América o sabor a cerveja,
e uma mulher fugitiva dentro do velho
a entrar devagar plos olhos da criança
Uma árvore, um rochedo, uma nuvem
o sorriso era vivo. - Lembra-te de que te amo
Eu serei aquele velho e tu a mulher,
a neve suspensa, à noite, sôbre a cama,
quando o recordar-te para não morrer
for a única tarefa na solidão do poema
E direi como ele à criança d'alva:
- Sabes como o amor devia começar?
E nem alegria nem tristeza no meu rosto:
um navio em dia de canícula
através do lago dos peixes dourados,
uma chuva miudinha, uma letra infantil
que salpica os painhos pousados nos mastros:
Uma árvore, um rochedo, uma nuvem.
António Barahona, Pássaro-Lyra (Primeiro Tômo da Suma Poética),
Lisboa, Averno, 2015
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