ESTÁTICA
A tempestade sacode as suas bátegas
contra a janela anoitecida:
o vidro estremece sob o granizo lançado.
Desengonçada, a televisão perde o controlo,
esvai-se em preto e branco,
depois em silêncio, enquanto as linhas descem.
Os postais dela agitam-se na prateleira, caem;
as luzes de Calais apagam-se uma por uma.
Ele não lhe pode contar
que os gansos regressam ao crepúsculo,
que o farol passeia a sua luz
por entre as trincheiras do mar.
Ele não lhe pode contar que a vasta noite
desliza como uma porta sem ela,
que ele é a fechadura
e ela é a chave.
Robin Robertson, A Painted Field,
Londres: Picador, 1997
[Trad. Inês Dias]
[Inês Dias, Nazaré 013]
Estar não faz mal nem bem. Ser chave e fechadura,
ser aquele que se perdeu no atalho dos dias. Depois,
é só fazer de conta que tudo vai bem. Depois,
é só acreditar no pior.
Rui Baião, Rude,
Lisboa: Averno, 2012
3 comentários:
:)
quero mais.
beijo
m
Sou muito coerente! Beijos
E eu às vezes sou obediente :)
Beijos
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