quarta-feira, 29 de maio de 2013

C de Carrosséis (XVI)

O carrossel:
Subi pela primeira vez para um carrossel quando tinha onze anos em Lausana, - pela segunda vez anteontem, nas colinas Vorobiov, o dia do Espírito Santo, com Alia, que agora tem seis anos. Entre estes dois carrosséis - toda uma vida.

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O carrossel! - A magia! O carrossel! - a felicidade! O primeiro dos sete céus! Repleto de estrelas, carregado de sons, o primeiro pobre e popular céu infantil da terra!
Apenas a sete vershóks do solo - mas o pé já não está sobre a terra! Já não há regresso! É uma sensação de irrevogabilidade, de condenação ao voo, de ter entrado num círculo...
O carrossel é um planeta! Que música de esferas emite a sua coluna que ressoa! Não é a terra que gira sobre o seu próprio eixo, é o céu que gira sobre o seu! A fonte do som está oculta. Depois de nos termos sentado já não vemos nada. Cai-se num carrossel como num torvelinho.
Os leões heráldicos e os cavalos apocalípticos, não são por acaso os fantasmas das feras com as quais Baco inundou o seu navio?
Céu de flagelante - promessa de fidelidade dos planetas - coluna de Memnon sob um sol que não declina... O carrossel!


Marina Tsvietaieva, Indícios Terrestres,
Lisboa: Relógio D'Água, 1995



António Sena da Silva, Lisboa / 1957

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