sábado, 15 de março de 2014

m, de memória


    Os livros sabem de cor
milhares de poemas.
    Que memória!
Lembrar, assim, vale a pena.
    Vale a pena o desperdício,
Ulisses voltou de Troia,
    assim como Dante disse,
o céu não vale uma história.
    Um dia, o Diabo veio
seduzir um doutor Fausto.
    Byron era verdadeiro.
Fernando, pessoa, era falso.
    Mallarmé era tão pálido,
mais parecia uma página.
    Rimbaud se mandou para África,
Hemingway de miragens.
    Os livros sabem de tudo.
Já sabem deste dilema.
    Só não sabem que, no fundo,
ler não passa de uma lenda.


Paulo Leminski, Toda Poesia,
São Paulo, Companhia das Letras, 2013

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