[João César Monteiro, Quem Espera por Sapatos de Defunto Morre Descalço, 1970]
Um mover de olhos, brando e piedoso,
Sem ver de quê; um riso brando e honesto,
Quase forçado; um doce e humilde gesto,
De qualquer alegria duvidoso;
Um despejo quieto e vergonhoso;
Um repouso gravíssimo e modesto;
Ũa pura bondade, manifesto
Indício da alma, limpo e gracioso;
Um encolhido ousar; ũa brandura;
Um medo sem ter culpa; um ar sereno;
Um longo e obediente sofrimento;
Esta foi a celeste fermosura
Da minha Circe, e o mágico veneno
Que pôde transformar meu pensamento.
LUÍS DE CAMÕES
[João César Monteiro, A Comédia de Deus, 1995]
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