domingo, 1 de abril de 2018

P de Páscoa Feliz (VII)


A FLECHA NEGRA


Não digas que escrevo
para o teu desconsolo - se o dia
não serve e a noite que chega
não me traz mais nada. Já foram
mais fáceis os meses e o sono,
os livros dilectos, a luz
sobre a cama -
e as vistas
da tarde por detrás da casa: hortas
de Macedo, olivais da Páscoa.
Mas não digas que escrevo
para o teu desconsolo. Escrevo
contra o nosso, escrevo
como posso.


Rui Pires Cabral, Morada,
Lisboa, Assírio & Alvim, 2015

Sem comentários: