PARDAL DE NATAL
A primeira coisa que ouvi esta manhã
foi um rápido bater de asas, suave, insistente -
asas contra vidro, como se percebeu depois,
lá em baixo, quando vi um pequeno pássaro
agitando-se na moldura de uma janela alta,
tentando lançar-se através do
enigma de vidro até à ampla luz.
E então um ruído na garganta do gato
que estava pregado ao tapete
contou-me como o pássaro ficara lá dentro,
transportado na noite fria
através da portinhola na porta da cave,
e posteriormente solto do aperto suave dos dentes.
De pé numa cadeira, prendi as suas pulsações
numa camisa e levei-o para a porta,
tão leve que parecia
ter desaparecido no ninho de tecido.
Mas cá fora, quando abri as mãos,
ele saiu disparado para o seu elemento,
mergulhando sobre o jardim adormecido
num espasmo de bater de asas
e desaparecendo sobre um renque alto de acácias.
Durante o resto do dia,
senti o seu vibrar selvagem
contra a palma das mãos, sempre que pensava
nas horas que a ave deve ter passado
presa nas sombras da sala,
escondida nos ramos pontiagudos
da nossa árvore decorada, onde respirou
entre anjos metálicos, maçãs de loiça, estrelas de verga,
os seus olhos abertos, como os meus, deitado aqui esta noite,
imaginando este pardal sortudo e raro
aconchegado agora num arbusto de azevinho,
com a neve caindo através da escuridão, sem uma aragem.
Billy Collins, Amor Universal,
trad. Ricardo Marques, Lisboa: Averno, 2014
[ID, 02/05/012]
4 comentários:
O privilégio de salvar uma vida nos aquece a alma. É uma sensação que poucos conseguem vivenciar. Por isso acredito que todos os seres vivos têm sua oportunidade de salvação!
Bonito poema.
Que o ano 2021 entre denodado e incisivo no caminho da esperança.
Boas entradas.
Bom 2021 também
- com dias mais serenos & próximos.
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