segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

E de Espera (XXXVI)


AO AMANHECER


As lágrimas não sabem
o que dizem, deixam-se cair
em turvos argumentos,
lembram-se de coisas.
Quase nos estragam as bebidas.

Ao fim de três whiskies,
abres uma porta
e tudo se aclara.
As memórias, os cadernos,
os aprestos do negrume,
ficaram para trás.

Agora já conheces 
os fósforos que tens,
abriga-os da chuva de dezembro.
Quem sabe que cigarros
estarão à tua espera.


José Miguel Silva
in Poetas Sem Qualidades, Lisboa: Averno, 2002

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