sábado, 7 de julho de 2018

A de "A propósito de andorinhas" (VII)


SÉTIMO CAPÍTULO


Hoje contemplei Sujata a beber chá em frente do jardim
de Pangim com gestos de pomba escura e tão alva,
e a ossatura de platina fluorescente, a cabeleira
fulminada numa pose que o vento ventilava fulva

Sujata sorriu como de costume no romance por escrever
que eu jamais escreverei (a acção não se desenrola)
e o poema também não há: havia, há, haverá uma veia
cortada de onde emergem as linhas de uma etopeya em transe

Nesta polpa amarga me situo e o sumo do fruto escorre
aos cantos do luto, não dos lábios, aos cantos do palácio
andorinha fugitiva que ri com a bocca toda numa rosa

Voltavam as asas, voltavam, as inúmeras espécies de vôo
estudadas inculcavam o cubo: voltavam as aves, voltavam
com romãs no bico e cada uma com um verso, todas as manhãs


Naga Massjid/Curti, Monção de 1982



António Barahona, Aos Pés do Mestre (Sexto Tômo da Suma Poética),
Lisboa, Averno, 2018

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