segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Z de Zoo (ou S de Saudade?)



Ontem regressei, quase 20 anos depois, ao Jardim Zoológico. Os meus pais tinham desistido de me levar lá, porque eu acabava invariavelmente a chorar em frente do macaco que estava só numa jaula, do urso preso a quem atiravam maçãs, do elefante que tinha de tocar o sino para ganhar a vida, dos flamingos que tinham perdido o rosa das penas ou das sepulturas em miniatura do Cemitério dos Cães. Isto apesar de me tentarem convencer que alguns daqueles animais, se vivessem no seu habitat natural, passariam fome ou matariam a fome a outros.
Houve coisas que não mudaram 20 anos depois. Continuei a sentir o mesmo nó no peito em frente do urso que percorria sem parar os limites da sua prisão ou do tigre branco que me olhou directamente nos olhos.
Mas o que me doeu mais foi sentir o tempo, esses 20 anos e as mudanças que implicaram. Estar tão mais embrenhada nas minhas coisas (o trabalho, a saúde, as responsabilidades, os prazos...) que o sofrimento alheio não me parecesse tão insuportável; ter talvez perdido a capacidade que na infância possuímos de nos entregarmos todos aos outros e aos momentos sem pensarmos em mais nada e muito menos em futuros. E chorar agora perdas concretas, como a da Rebecca, que não está ali, mas de quem me lembrei ao ver as mesmas sepulturas em miniatura da minha infância sem animais de estimação; ou a das pessoas que me levavam pela mão e me consolavam incansavelmente. Os regressos são sempre, mesmo que em parte, impossíveis. Se calhar por isso, não tive coragem de andar no carrossel iluminado que me devolvia o sorriso no final de cada visita.

2 comentários:

Anónimo disse...

Que belíssimo texto!
Um beijo
Renata

Anónimo disse...

muito bonito mas mesmo a dizer:
- pessoal, quando é o próximo jantar?!
bj
didi