AINDA NÃO
Ainda não
não há dinheiro para partir de vez
não há espaço demais para ficar
ainda não se pode abrir uma veia
e morrer antes de alguém chegar
ainda não há uma flor na boca
para os poetas que estão aqui de passagem
e outra escarlate na alma
para os postos à margem
ainda não há nada no pulmão direito
ainda não se respira como devia ser
ainda não é por isso que choramos às vezes
e que outras somos heróis a valer
ainda não é a pátria que é uma maçada
nem estar deste lado que custa a cabeça
ainda não há uma escada e outra escada depois
para descer à frente de quem quer que desça
ainda não há cama só para pesadelos
ainda não se ama só no chão
ainda não há uma granada
ainda não há um coração
- ANTÓNIO JOSÉ FORTE
in Surrealismo/Abjeccionismo, org. Mário Cesariny de Vasconcelos,
Lisboa: Edições Salamandra, 1992
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