segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

C de Começar o dia com um livro novo (V)

SUPER-REALIDADE


Eu era de terra quando me procuraste,
estranho à franqueza dos teus modos, baço
para os teus sentidos.

Parávamos o carro num beco qualquer,
queimávamos o rastilho das palavras
até ao deserto onde dávamos as mãos.

Lá fora, a realidade era o espaço inteiro
deitado nos vidros, o mundo caído
para dentro do silêncio.

Gastávamos depressa o tempo, perdidos
no nosso único mapa,
nenhum sinal de mudança no regresso a casa.


Rui Pires Cabral, A Super-Realidade,
Lisboa: Língua Morta, Dezembro de 2011

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