Não assombra a sua casa quem quer. É preciso haver tempestade e incêndio. Conheci períodos em que a minha me não queria. Recusava-me a sua ajuda. As paredes não se impregnavam com nada. Faltavam-lhes as grandes sombras do fogo, os ondeados da água. Quanto mais a casa se esvaziava de mim, mais eu me esvaziava dela. Esta falta de permuta construía um tédio. Nem eu nem ela já éramos capazes de armadilha. E sem armadilha, nenhuma caça. É vivermos sem chegar a nada. Os meus amigos sentiam-no. E recuavam, como as paredes. Ia ser necessário eu esperar que os eflúvios voltassem, se contrariassem, formassem essa mistura explosiva que faz as nossas casas arderem. Porque elas nos imitam e só devolvem o que lhes damos. Mas este eco fala e obriga ao diálogo.
Jean Cocteau, "Das casas assombradas"
in Visão Invisível, Lisboa: Assírio & Alvim, 2005
* Enquanto revisito outros fantasmas.
* Enquanto revisito outros fantasmas.
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