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Reconhecemo-nos, desaparecemo-nos, amigo a quem eu mais queria.
Eu, assistindo ao meu nascimento. Eu, à minha morte.
E eu caminharia por todos os desertos deste mundo e mesmo morta continuaria a procurar-te, a ti, que foste o lugar do amor.
Alejandra Pizarnik, Antologia Poética,
trad. de Fernando Pinto do Amaral,
Lisboa, Tinta da China, 2020
*
Para atravessar contigo o deserto do mundo
Para enfrentarmos juntos o terror da morte
Para ver a verdade para perder o medoAo lado dos teus passos caminhei
Por ti deixei meu reino meu segredo
Minha rápida noite meu silêncio
Minha pérola redonda e seu oriente
Meu espelho minha vida minha imagem
E abandonei os jardins do paraíso
Cá fora à luz sem véu do dia duro
Sem os espelhos vi que estava nua
E ao descampado se chamava tempo
Por isso com teus gestos me vestiste
E aprendi a viver em pleno vento.
Sophia de Mello Breyner Andresen, Livro Sexto,
Lisboa, Moraes Editores, 1962
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