terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

J de Janelas II

Les Fenêtres


Celui qui regarde du dehors à travers une fenêtre ouverte, ne voit jamais autant de choses que celui qui regarde une fenêtre fermée. Il n'est pas d'objet plus profond, plus mystérieux, plus fécond, plus ténébreux, plus éblouissant qu'une fenêtre éclairée d'une chandelle. Ce qu'on peut voir au soleil est toujours moins intéressant que ce qui se passe derrière une vitre. Dans ce trou noir ou lumineux vit la vit, rêve la vie, souffre la vie.

Par delà des vagues de toits, j'aperçois une femme mûre, ridée déjà, pauvre, toujours penchée sur quelque chose, et qui ne sort jamais. Avec son visage, avec son vêtement, avec presque rien, j'ai refait l'histoire de cette femme, ou plutôt sa légende, et quelquefois je me la raconte à moi-même en pleurant.

Si c'eût été un pauvre vieux homme, j'aurais refait la sienne tout aussi aisément.

Et je me couche, fier d'avoir vécu et souffert dans d'autres que moi-même.

Peut-être me direz-vous: «Es-tu sûr que cette légende soit la vraie?» Qu'importe ce que peut être la réalité placée hors de moi, si elle m'a aidé à vivre, à sentir que je suis et ce que suis?
Charles Baudelaire

2 comentários:

Anónimo disse...

Há pessoas muito engraçadinhas...
MM

Anónimo disse...

Gosto muito deste blog. Deixo-vos com um poema escrito por um amigo meu que esteve em paris.

MB




HOTEL LONDON, QUARTO 502

para o Pedro Serpa


I


É estranho que se possa
de repente pensar
que a felicidade consiste
em olhar, desta janela,
para um pátio interior

composto, por sua vez,
de janelas abertas ou fechadas,
sombrias ou com luz,
sob o cinzento vigilante dos telhados.

A beleza – isso que de repente
nos afronta e merecia,
aliás, outro nome – nada
deve agora às «fenêtres» do Pimodan.

Acontece, tão-só, que a cidade
se chama Paris – e a morte,
esta noite, não nos vencerá.



II


É claro que poderia ter dito
quase exactamente o mesmo
de um modo menos enfático,
desprovido de acenos literários
tão generosos para com
os meus detractores (que são
pessoas sérias, de aura reluzente).

Além do pátio interior e de todas
as janelas, há uma escrivaninha
que me fez sentir a obrigação moral
de um poema, nem que este
dissesse apenas que
hoje – 22 de Julho de 2008 –
estou vivo em Paris
e não quero saber de mais nada.


III


Com um pouco mais de concisão,
chegaria ao ponto de afirmar
que as janelas de Paris
são as que melhor
me fazem esquecer o mundo.

Convém, pois, demonstrar-lhes
a gratidão possível, nem que seja
assinando versos desbotados.



IV


Paris é, tentando uma síntese
derradeira, muito mais real do que
o mundo. Telhados de chumbo
que se despedem, sem regresso

– por saberem que não há canções.



V


O poema mais interessante, porém,
seria aquele que escreve agora
quem me vê escrever nesta janela
um poema sobre Paris que não existe.