terça-feira, 22 de março de 2011

T de Tratado de Pedagogia (XX) - No fundo, é isto:


ADENDA


Para a Inês e à memória
de quantas andorinhas matei


Como a fotografia que tiras, a pedra
que vos lancei desde essa primavera
da minha infância
tinha (se me perdoares a franqueza)
a mesma intenção: capturar o momento.
Mas um jeito rude, cretino, o desejo
quando só sabe ser grosseiro, antes
de ganhar bons modos, mais artísticos.
Em vez de «para sempre»
ou apenas «para mais tarde recordar»,
ali mesmo se precipitava, atropelando
a realidade nesse seu golpe possessivo.
Não sabendo reproduzir, criar igual,
vai destruir – para ter pelo menos
mão na coisa, um papel qualquer
ainda que seja o de vilão.

Não espero que o entendas. Por sorte,
eu entendo-te. E o que nos separou
talvez recorde aos dois o nosso papel.
Chama-se educação, professora.


Diogo Vaz Pinto
in AAVV, A propósito de andorinhas,
Lisboa, 18 de Abril de 2011

1 comentário:

Anónimo disse...

Que mão certeira. Muito belo.

As andorinhas já te perdoaram.

Abraço,

Ricardo