sábado, 10 de dezembro de 2011

S de Solidão (ou C de Comunidade) XXXIII

MEMÓRIA


Para o Olímpio,
com demasiados anos de atraso e de saudade


Dizemos órfão. Viúvo. Mas
não há palavra suficiente para
o amigo que sobrevive ao amigo
e não se reconhece mais
na composição dos dias.

Em redor da tua ausência,
banco de pedra irreparável,
cresceram as grossas raízes
do mundo: sem margens generosas
nem cintilações íntimas entre as linhas,
natureza morta com estrelas frias.

Há perdas assim,
que não se deixam fechar.
Apenas uma espécie de solidão
com vista para outras solidões
e o nevoeiro sempre entre nós.

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