A CANÇÃO DO VENDEDOR DE PIPOCAS
para Angélica Freitas
em frente ao Banco de La Nación Argentina
o vendedor de pipocas
da avenida Paulista
desvenda os mistérios do Honda prata
que passa lentamente, soberbo
("coisa mais sem gente!")
pensa na noite crônica no organismo
da tiazinha de vestido florido (onde
predomina o ruivo)
agora assobia e coloca milho na panela
os estouros acordam a minha fome
(no El País
El presidente se apuesta por las políticas
a favor de los "más olvidados"
y "los que pueden menos" –
risco outro fósforo, acendo outro cigarro,
outra melodia
frustrated incoporated)
quando chega o outro, de bicicleta
notificando o acidente na Rebouças
("foi feio pra caralho, mano!")
logo envelopa a fala, se cala
a chuva recomeça sua cantilena
preciso das horas, mas não encontro meu celular
uma moça linda (ensopada) pára
em frente a mim,
balbucia
can you help me remember how to smile?
silencio e miro a placa brilhante
que traz o nome do meu amor
– imagino que as canções do Bob Dylan
existam para nos fazer suportar dias
como este – a
cidade se altera, oxida de
alteridade e acídia
(La Contenta Bar
está muito longe e
a noite passada
você não veio me ver)
Fabiano Calixto, Sanguínea,
São Paulo: Editora 34, 2007
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