domingo, 10 de março de 2013

Y de "y el sol era un domingo" (II)


seis horas
parece domingo   parece sempre domingo
quando se ouve a feira das gaivotas
e o infinito cheira a peixe
e ainda não nasceu o aroma dos cafés de máquina
as lojas da baixa fechadas
o casario despintado a sujar o olho
os pombos do largo são muitos
engordam com o ar da festa e das farturas
mas isto mais para diante
quando a manhã for mais clara
e a procissão estiver no adro
hão-de vir os comissários do cortejo   os acólitos
e mais pessoas investidas
os seráficos bombeiros
primeiro o andor da senhora com rosas
depois o senhor da cruz com rosas brancas
e o mirone do transístor na orelha com os pés no bordo do passeio


Abel Neves, Quasi Stellar,
Lisboa: Língua Morta, 2013

Sem comentários: