domingo, 29 de maio de 2016

A de Amor (XXIII)


Tristão e Isolda: o amor em si. À margem dos que ateiam os ciúmes e a inveja: dos olhos. À margem do ressoar das críticas e aprovações: os rumores. À margem dos olhos e dos rumores. Ninguém os viu e ninguém ouviu falar deles. Viviam no bosque. Um lobo e uma loba. Tristão e Isolda. Nada possuíam. Não levavam nada sobre os corpos. Nem tinham nada sob os pés. Acima deles não existia nada. Por detrás deles - nada, diante deles - o Nada. Nem amanhã, nem ontem, nem ano, nem hora. O tempo tinha-se detido. O mundo chamava-se bosque. O bosque chamava-se arbusto, o arbusto chamava-se folha, a folha chamava-se - tu. Tu chamava-se eu. Inexistência no vazio. O fundo como ausência, e a ausência como o fundo.


MARINA TSVIETAIEVA




Uma janela do meu antigo (e encerrado) liceu,
24/05/013

3 comentários:

Odracir disse...

Comprei-o hoje na Feira. Obrigado, Inês, (mais uma vez)

ID disse...

Óptimo: assim já tenho com quem partilhar a leitura :)

Odracir disse...

:)