XX
Caso contrário, se não houver uma dor profunda que torne os homens igualmente silenciosos, um ouve mais, outro menos, da poderosa melodia do pano de fundo. Muitos já nem a ouvem. São como árvores que esqueceram as suas raízes e que crêem que a sua força e a sua vida são o rumor dos seus ramos. Muitos não têm tempo para a ouvir. São impacientes para com o tempo à sua volta. São pobres apátridas, que perderam o sentido da existência. Primem as teclas dos dias e tocam sempre a mesma monótona nota perdida.
Rainer Maria Rilke, Notas sobre a melodia das coisas,
trad. de Sandra Filipe, Lisboa, Averno, 2011
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