quarta-feira, 2 de novembro de 2011

E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (IV)

ENTREVISTA



Poesia modo de conhecimento ou meio de expressão?

Poesia é sobretudo, e antes de mais nada, forma de conhecimento. Mas não pode deixar de ser, também, expressão. Conhecimento de nós, dos outros, do mundo, enfim. Conhecimento do homem como microcosmos, entenda-se. Logo, conhecimento sempre revolucionário. Escrevi uma vez: a revolução é um momento, o revolucionário todos os momentos. É evidente que este revolucionário só pode ser o poeta. Porque o poeta, sendo um visionário, é também uma visão: através dele todos podem ver. Ver criticamente, livremente - afinal única maneira de ver. Expressão desse conhecimento pode ser a palavra escrita, e é apenas neste sentido que digo que a poesia é também expressão.


Nós encontrávamo-nos nos cafés. Hoje os cafés perderam-se. Que mais achas tu que se perdeu (ou ganhou) - além da vida? 

Sim, encontrávamo-nos nos cafés. [...] Será melhor dizer: a nossa presença nos cafés era uma constante afirmação contra a morte. [...]  No Café Gelo encontrei a poesia na sua primeira forma bárbara, que é a forma do início de tudo. Os cafés perderam-se, foram assassinados. Perdeu-se, isto é, eu acho que perdi sobretudo o que me roubaram. Ganhei tudo o que tive talento e força para ganhar. Estou vivo.

[...]


Entrevistador - Ernesto Sampaio / Entrevistado - António José Forte
in Corpo de Ninguém, Lisboa: Hiena Editora, 1989

Sem comentários: