Lá estava o pássaro imóvel - vulto furioso e sombrio, de grandes asas, um pequeno mundo feito de ferozes desesperos, de sonhos e da lembrança de ter flutuado lá no alto, acima do Popocatepelt, em voos de quilómetros e quilómetros, para depois baixar sobre a floresta e poisar, em atitude de observação, nos topos fantasmagóricos das desoladas árvores da montanha! Com mãos rápidas mas trementes, Yvone começou a abrir a gaiola. A ave saiu esvoaçando. Poisando-lhe aos pés, hesitou; depois, voou para o telhado de El Petate; em seguida, precipitou-se no espaço através da obscuridade, não para poisar na árvore mais próxima, como seria de crer, mas para subir, subir, no que tinha razão, pois se reconhecia livre - a grande altitude, com um súbito esgaçar de rémiges, no céu límpido, de um azul profundo, no qual, nesse momento, surgia a primeira estrela. Yvonne não sentia qualquer espécie de remorso, mas apenas uma inexplicável e secreta sensação de triunfo e de alívio: nunca ninguém viria a saber do seu acto. Por fim, apoderou-se dela uma sensação de total desgosto e desânimo.
Malcolm Lowry, Debaixo do Vulcão, p.333
3 comentários:
Popocatepelt...
beijo
marta
Acho que vou começar a reler o DEBAIXO DO VULCÃO, para ver se o Popocatepelt entra novamente em erupção, como aconteceu durante a minha 2ª leitura... ;)
Beijo
Derrete-me, tanta dedicação ;)
Beijo
marta
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