segunda-feira, 7 de maio de 2012

R de Rebeca (XIII)

CÃO
[Jardim das Colónias, 1906]

Para a Rebeca,
primeira e única

Não quero mais Oriente.
Cansei-me do amanhecer
com a sua urgência gasta                
de partir, buscar, perder.

Troquei-o pela certeza
nocturna do teu regresso,
o ângulo previsível dessa mão
descendo sobre o meu pêlo sempre frio
como uma casa pousada no Inverno.

Quero um tempo com segredo,
bailarina de saia esfarrapada
numa caixinha de música
que só tu possas abrir
e sentir ternura pela morte,
a única separação que nunca me ensinaste.


Inês Dias, In Situ,
Lisboa: Língua Morta, 2012

2 comentários:

Odracir disse...

Gosto muito! Posso divulgar? (Com a identificação da autoria, evidentemente.)

ID disse...

Claro que sim :)