sábado, 7 de maio de 2011

S de Solidão (ou C de Comunidade) XXI

ACORDAR TARDE


todas as flores murchas que alguém ofereceu
quando o rio parou de correr e a noite
foi tão luminosa quanto a mota que falhou
a curva - e o serviço postal não funcionou
no dia seguinte

procuras ávido aquilo que o mar não devorou
e passas a língua na cola dos selos lambidos
por assassinos - e a tua mão segurando a faca
cujo gume possui a fatalidade do sangue contaminado
dos amantes ocasionais - nada a fazer

irás sozinho vida dentro
os braços estendidos como se entrasses na água
o corpo num arco de sal tenso simulando
a casa
onde me abrigo do mortal brilho do meio-dia


- Al Berto, O Medo

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