Eu não posso viver simultaneamente
na minha cabeça e no meu corpo.
Por isso não consigo ser uma única pessoa.
Posso sentir-me uma infinidade de coisas ao mesmo tempo.
O verdadeiro mal do nosso tempo é já não existirem grandes mestres.
O caminho do nosso coração está coberto de sombra.
É necessário escutar as vozes que parecem inúteis.
É necessário que nos cérebros ocupados pelos longos tubos de esgotos, pelas paredes das escolas, pelo asfalto e pelas práticas assistenciais
entre o zumbido dos insectos.
É necessário encher os ouvidos e os olhos de todos nós,
de coisas que estejam no início de um grande sonho.
Alguém deve gritar que iremos construir as pirâmides.
Não importa se não as construirmos, é necessário alimentar o desejo.
Devemos esticar alma de todos os lados como se fosse um lençol dilatável ao infinito.
Se quiserem que o mundo evolua, temos de estar de mãos dadas,
devemos misturar-nos, os que se definem saudáveis e os doentes.
Vocês sãos! o que significa a vossa saúde?
Todos os olhos da humanidade estão a olhar para o precipício, para o qual nos estamos todos a dirigir.
A liberdade não serve, se não têm a coragem de nos olhar nos olhos,
de comer connosco, de beber connosco, de dormir connosco.
São os chamados saudáveis que têm levado o mundo à beira da catástrofe.
Homem, escuta!
Em ti água, fogo e depois cinza e os ossos dentro da cinza.
Os ossos e a cinza!
Onde estou, quando não estou nem na realidade?
E nem na minha imaginação?
Faço um novo pacto com o mundo:
Que haja sol de noite e neve em Agosto.
As coisas grandes acabam, são as pequenas que duram.
A sociedade deve voltar a ser unida e não tão fragmentada.
Seria suficiente observar a natureza, para perceber que a vida é simples
e que é necessário regressar ao ponto anterior onde enveredamos pelo caminho errado!
É necessário voltar às bases fundamentais da vida, sem sujar a água.
Que raio de mundo é este, se é um louco que vos diz, que devem ter vergonha.
Oh, Mãe!
Oh, Mãe!
O ar é algo de leve que anda à roda da cabeça
e torna-se mais clara quando ris.
- Discurso de Domenico (Erland Josephson), personagem do filme Nostalghia (1983), de Andrei Tarkovski, com argumento de Tonino Guerra
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