domingo, 25 de março de 2012

A de A Arte da Guerra

ESTA NOITE


Como doem os ventos esta noite
quando ao longe os tambores da guerra
se acariciam tristemente e pedaços de céu
se desprendem apodrecidos, cansados.
Esta noite no quarto com aroma de pêssego
os amantes sussurram como soldados feridos
e lembram o seu primeiro beijo como uma bala suave.
Nos gastos divãs, os avós de riso lânguido
esperam apenas a fria carícia da morte
e entretêm, tecendo, as suas horas de recordações.
A noite avança como um grande deus que enfeitiça no medo
mais além dos bosques e das sombrias armadilhas,
mais além do selvagem amor da fêmea humilhada.
Nesta noite de olhar de lobo
como dói o silêncio que repousa como rapariga febril
por trás dos vidros das casas.

Orietta Lozano
in Um país que sonha - cem anos de poesia columbiana,
trad. Nuno Júdice, Lisboa: Assírio & Alvim, 2012

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