QUANDO ABRES A TUA CASA
Quando abres a tua casa
os amigos entram, esgaravatam,
deixam as suas cinzas, as suas migalhas,
o riso nas paredes como uma aranha.
No pavimento a sombra bailando, a goma dos dias.
As suas palavras são animais mortos que varres.
Se eles se vão,
a casa é uma boca de lobo
e queres fugir dos seus dentes, da insónia,
de ti mesmo.
Mas com frequência os amigos regressam.
Vêm à procura de um cheiro perdido, de uma moeda antiga,
do vazio do seu corpo na cadeira,
da música que esqueceram.
Então,
já ninguém sabe onde começa o vazio,
se é melhor estar antes ou depois da porta,
se a lua entra ou sai de casa.
Luz Helena Cordero
in Um país que sonha- cem anos de poesia colombiana,
trad. Nuno Júdice, 2012
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