"Sempre
que vou para o campo, e entro em contacto com a natureza, compreendo que viver é
ver regressar; que cada sensação e cada sofrimento e cada prazer nosso partem,
virginalmente, de uma memória. Quando terá nascido esta emoção que sinto agora
de ver morrer a tarde, embalado no solo, enquanto acaricio a erva? Em que sítio
do mundo terá nascido? De onde veio até mim para que eu a possa sentir deste
modo tão necessário e radical? As emoções, tal como a linguagem, nascem numa
fonte remota do sentir colectivo. Também o ver dos meus olhos e o gostar dos
meus lábios são uma tradição interrompida que eu rezo de novo, e o choro é uma
acção de graças de todos os que me antecederam no conhecimento da dor. […]
Gostaria de te dizer que a memória nos faz e nos desfaz, que a memória é o único
meio que o homem tem para diferenciar umas coisas das outras, para as viver e fazê-las
suas. O que não se recorda, o que não regressa do coração aos sentidos, não se
vive, sente-se. Entre o sentir e o viver está a memória."
Luis Rosales, El contenido del corazón,
1941
[Trad. ID]
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