quarta-feira, 26 de outubro de 2011

C de Cicatriz(ação) VII

Descascam-se batatas toda a noite
até aos dedos densos de frieiras
demanda da alma com cicatrizes
imprecisão dos golpes, incisões
perdidas, devaneios como gume
por onde ascende em gretas outro dia
janela, cascas nacaradas, rio e ouro

*

As borboletas desdobram as asas
assim se abrem os olhos pesados
fios soltos da luz, e há barrelas
vozes de realejos e vapores
na encadeada nitidez do ar
eis as talhas douradas pelo sol
e haveria um dia de luz iluminada


José Manuel Teixeira da Silva, Anima, introdução e ilustrações de Ana Abreu,
Lisboa: Língua Morta, Outubro de 2011

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