ESCREVO-TE DE UM PAÍS QUE PESA
Tão bela como a mão da amada
sobre o mar.
Tão sozinha.
Escrevo para ti. A dor é uma concha. Nela se ouve o coração
perlar.
Escrevo para ti no limiar do idílio, para a planta das folhas
de água, dos espinhos de chamas, para a rosa de amor.
Escrevo para nada, para as palavras luzentes que a minha morte
traça, para o instante de vida eternamente devido.
Tão bela como a mão da amada
sobre o sinal.
Tão sozinha.
Escrevo para todos. Escrevo-te de um país que pesa como os
passos do forçado, de uma cidade igual às outras onde os gri-
tos camuflados se torcem nas montras; de um quarto onde as
pestanas a pouco e pouco destruíram o silêncio.
Tu és, predestinada destinadora, a minha razão de escrever;
alegre inspiradora do dia e da noite.
Tu és o colo de cisne sedento de azul.
Tão bela como a mão da amada
sobre os olhos.
Tão doce.
[...]
Edmond Jabès
[Trad. Pedro Tamen]
Sem comentários:
Enviar um comentário