A CABEÇA CONTRA AS PAREDES
(fragmento)
Eram apenas uns poucos
Em toda a terra
Cada um se julgava só
Cantavam, tinham razão
Para cantar
Mas cantavam como quem saqueia
Como quem se mata
Noite húmida surrada
Iremos nos suportar-te
Mais tempo ainda?
Não vamos nós sacudir
Tua evidência de cloaca?
Não esperaremos por uma manhã
Feita à medida
Queríamos ver claro nos olhos dos outros
As suas noites de amor esgotadas
Eles não sonham senão em morrer
As suas belas carnes abandonam-se
Pavanas a rodar no coração
Abelhas colhidas no seu mel
Eles ignoram a vida
E a nós tudo nos dói.
Paul Éluard, Algumas das Palavras,
trad. António Ramos Rosa e Luísa Neto Jorge,
2ªed., Lisboa: Publicações D. Quixote, 1977
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