"Lembro-me duma frase doutro escritor de língua alemã, Hermann Broch, que me impressiona ainda com a mesma intensidade, muitos anos depois de a ter lido. 'O amor é uma estranheza' - diz ele. Tudo o que nos desperta e até fere é um toque de alvorada do amor, ou é a descoberta da sua procura. Porque o amor nada mais é do que a procura incessante, a inspiração de toda a ausência de perigo para o qual o homem se acha destinado. [...] Kafka preocupa-se em criar obstáculos aos seus concidadãos de Praga e do mundo inteiro; obstina-se em ser desagradável e criar raízes assim no coração dos outros. A sua forma de amor é a hostilidade, a resistência à fatalidade do acordo, o desprezo da bonomia cuja superficialidade o magoa mais do que a agressão."
"Pois aquele que ama está num embaraço, não sabe o que faz, anda à procura. Não é esta a maneira menos decisiva de justificar a natureza incompleta da filosofia - termo cujo significado nunca se fixou definitivamente -, tarefa intrigante, que leva de cada vez a cabo uma inquiração de identidade, desde sempre grande motivo de escândalo. Com efeito, só se pode amar aquilo que não se possui. A imoderação própria da actividade filosófica tem a ver com a natureza do amor."
Agustina Bessa-Luís, Kafkiana,
Lisboa: Guimarães, 2012
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"Pois aquele que ama está num embaraço, não sabe o que faz, anda à procura. Não é esta a maneira menos decisiva de justificar a natureza incompleta da filosofia - termo cujo significado nunca se fixou definitivamente -, tarefa intrigante, que leva de cada vez a cabo uma inquiração de identidade, desde sempre grande motivo de escândalo. Com efeito, só se pode amar aquilo que não se possui. A imoderação própria da actividade filosófica tem a ver com a natureza do amor."
Maria Filomena Molder, A Imperfeição da Filosofia,
Lisboa: Relógio D'Água, 2003
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