[Lisboa, 21/09/12]
V
o corpo também é uma cidade,
mesmo que ele a abandone
e a trate como suor, evaporada
lembrança do sal,
a cidade jamais deixará de ser do corpo
assim como na areia a memória do deserto
VI
mas a cidade também é um corpo
basta cegá-la para ver
que ela tinha olhos
basta amputá-la para saber
que ela tinha membros
pisoteá-la
e descobrir a cotação dos ossos
torturá-la para ouvi-la
pena que não diga palavra alguma
articulada para os ouvidos
que esperam o ponto de os ossos cederem
e cantarem com sua voz seca
que tudo é um corpo e morre
Pádua Fernandes, Cálcio,
Lisboa: Averno, 2012
Sem comentários:
Enviar um comentário