Ouves a música do campo
e a serpente passa, o pequeno comboio
cobre linhas de silvas e a dor
de não voltar. Quatro colunas
sustêm o alpendre, uma
e outra vez a ver o casal, a ver
desabar o modo impossível
da vontade. Ouves música
no campo enquanto arrumas
na mala coisas de sentimento
e duração. Golpes de asas
voam sobre a tarde, voam
sobre ti que já só sabes
reconhecer a língua do mal
mas asas não. Prendo-me à janela
e a rede tapa a luz
de um incêndio.
Helder Moura Pereira
in Depósito Legal N.º 23571/88, Lisboa: frenesi, 1988
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