quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

R de Regresso ao Trabalho (XLVII)

O MADRUGADOR
Também hoje, às oito menos vinte
como de costume, espera que saias de casa
e entres no dia e sua rotina - a semana -.
Não sabes quem é, mas tens uma ideia.
É o que derrama óleo numa curva
muito apertada do inverno antes de chegares,
o que ontem votou a favor da Lei da Gravidade
e hoje ta lança, com um vaso, do quinto andar.
É o que combina contigo sob a árvore da tempestade
quando o céu se rasga como um pálio,
o que arranja os futuros imperfeitos,
o que tem a sua época alta em cada um de novembro,
o que redige os guiões para que o acaso os leia.
Estes são as suas ocupações e outras piores.
Mas também algumas vezes, poucas,
se estiver de bom humor vai ditar-te ao ouvido
o nome de um cavalo no hipódromo,
arranjar-te às escondidas tanto um encontro
como uma mota velha, dar-te tudo
mesmo que no fim te tire mais: a vida.
Não sabes que rosto te reserva hoje,
se esta manhã te amaldiçoa ou sorri.
O que guarda para ti na sua mão fechada,
o que te lançará de repente à cara:
se uma salva de arroz ou um punhado de terra.
Se te coroará de urtigas ou de louros.
Mas espera-te e não conseguirás escapar-lhe.
Mas precede-te e não poderás ultrapassá-lo:
por muito que madrugues, o teu destino
levanta-se sempre antes de ti.
Madrid: Visor, 2012

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