A MECÂNICA DAS COISAS
Do deserto vem o primeiro barco. É
o próprio vento. Por isso houve uma guerra
ninguém se lembra erguida torre de ventos
para nada serve.
O frio anda à sua volta não tem chão
para os seus pés. Imagem trazendo do verão
a negro e branco o sonho a sombra
dos plátanos reduzindo a rosa
à superfície do mar ocidental.
Parte única. O que aconteceu nestes três anos
ocupando um quarto desta terra entre
nuvens e ilhas cada um de nós
elemento conquistado pelo mar
pelo ar pelos livros mais os erros. É
como um sono é uma perda de tempo
cada manhã
o mesmo murmúrio a terra dura e fértil sem
florestas e campos sem montanhas sem flores
as suas casas solidez dos lugares
levando da beira mar pela distância
pequena ilha querendo a todo o instante a
ilha vizinha
o trabalho o que vai ficar a um canto
dentro de nós.
É o resumido mundo o destino
o fundo dos bolsos este país dos outros.
Estás no limite de exigir a noite mais
escura.
Tudo tinha desaparecido.
Um candeeiro iluminava os arbustos.
Seriam já as horas da manhã.
João Miguel Fernandes Jorge
in Sobre o mar e a casa, com pinturas de Pedro Calapez,
Lisboa: Europália, 1991
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