quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

T de Tempo Sem Tempo (XV)

A MECÂNICA DAS COISAS



Do deserto vem o primeiro barco. É
o próprio vento. Por isso houve uma guerra
ninguém se lembra erguida torre de ventos
para nada serve.

O frio anda à sua volta não tem chão
para os seus pés. Imagem trazendo do verão
a negro e branco o sonho a sombra
dos plátanos reduzindo a rosa

à superfície do mar ocidental.
Parte única. O que aconteceu nestes três anos
ocupando um quarto desta terra entre
nuvens e ilhas cada um de nós

elemento conquistado pelo mar
pelo ar pelos livros mais os erros. É
como um sono é uma perda de tempo
cada manhã

o mesmo murmúrio a terra dura e fértil sem
florestas e campos sem montanhas sem flores
as suas casas solidez dos lugares
levando da beira mar pela distância

pequena ilha querendo a todo o instante a
ilha vizinha
o trabalho o que vai ficar a um canto
dentro de nós.

É o resumido mundo o destino
o fundo dos bolsos este país dos outros.
Estás no limite de exigir a noite mais 
escura.

Tudo tinha desaparecido.
Um candeeiro iluminava os arbustos.
Seriam já as horas da manhã.


João Miguel Fernandes Jorge
in Sobre o mar e a casa, com  pinturas de Pedro Calapez,
Lisboa: Europália, 1991

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