segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (XLI)


DURANTE A INVENÇÃO DO FOGO


para Julián



[…]



III

Queimar. Da pele
aos ossos. Dos ossos
ao tutano. Dele
à célula indistinta entre ser e não.

Não pela luz,
pela carícia suja da cinza.
Lamber a cinza
para aprender o vermelho.

O amigo
quer publicar o fogo,
libertá-lo
da cinza acumulada
a que chamamos país.

Frio o coração da chama.

Publicado,
devolver-se-ia aos ares
e tornaria a ser inédito.

O amigo publica o país
que sob a cinza
continua inédito.

Queimar.
Até que volte a ser cru.



[...]


Pádua Fernandes, Cálcio,
Lisboa: Averno, 2012

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