DURANTE A INVENÇÃO DO
FOGO
para Julián
[…]
III
Queimar. Da pele
aos ossos. Dos ossos
ao tutano. Dele
à célula indistinta entre ser e não.
Não pela luz,
pela carícia suja da cinza.
Lamber a cinza
para aprender o vermelho.
O amigo
quer publicar o fogo,
libertá-lo
da cinza acumulada
a que chamamos país.
Frio o coração da chama.
Publicado,
devolver-se-ia aos ares
e tornaria a ser inédito.
O amigo publica o país
que sob a cinza
continua inédito.
Queimar.
Até que volte a ser cru.
[...]
Pádua Fernandes, Cálcio,
Lisboa: Averno, 2012
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