quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

E de "É assim que se faz a História. Sem palavras a mais." (XLII)



Com este desenvolvimento colossal da técnica, abateu-se uma nova espécie de pobreza sobre os homens [...]. De que vale hoje em dia toda a herança cultural se nenhuma experiência nos liga a ela? A terrível confusão de estilos e concepções do mundo no século passado mostrou-nos o que provocam a hipocrisia ou a deslealdade nesta matéria, com tamanha clareza que só podemos considerar digna de respeito a confissão da nossa miséria. Confessemos, pois: esta pobreza da experiência não é apenas uma pobreza das experiências privadas, mas uma pobreza das experiências humanas. Será uma espécie de nova barbárie? Com efeito. Afirmamo-lo de modo a introduzir um novo conceito, uma visão positiva da barbárie. Afinal, esta pobreza de experiências leva o bárbaro a fazer o quê? Leva-o a querer recomeçar as coisas, a avançar, a desenvencilhar-se com pouco, a construir com o pouco que tem e sem olhar nem para a direita nem para a esquerda [...]. Tornámo-nos pobres. Fomos sacrificando a herança da humanidade, e muitas vezes empenhámo-la por uma centésima parte do seu valor, só para recebermos em troca a moeda miúda do "actual" [...] A humanidade prepara-se para sobreviver, se necessário, à cultura. E o mais importante é que o faz rindo. É possível que, de vez em quando, esse riso tenha um som bárbaro. Ainda bem. Talvez o indivíduo possa ocasionalmente oferecer um pouco de humanidade às massas, que a devolverão um dia com os juros do capital e os juros dos juros.



Walter Benjamin, Experiência e pobreza
citado em
Tiqqun, Théorie du Bloom, Paris: La Fabrique éditions, 2000
 

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