domingo, 13 de janeiro de 2013

P de Poesia (XIII)


INVESTIDA



Teu argumento, môça, faz com que eu abandone
     os livros, o corpo a corpo com a sabedoria, e
     saia contigo, pelo sítio
aprendendo a linguagem da chuva, a passarinhagem
     irresponsável e o travo selvagem das frutas.

Teu braço me mostra o vento nas goiabeiras - as
     melhores rimas
e teu olhar descobre definitivamente o farol que em
     plena manhã
se recomenda à gratidão dos arrecifes, das canoas,
     dos penhascos e das proas.

Estou contigo. Nem Homero me levará mais
para a libertinagem da imortalidade. Aqui os clás-
     sicos se dissolvem
nos papagaios que as crianças soltaram no céu
para lutar com os albatrozes.

Sei agora, môça, que meus pés nus na areia
estão pisando o chão da Descoberta.
Já não preciso de versos para saber que estou vivo.
Estou caminhando entre as árvores sem nenhum
     compromisso. 





Lêdo Ivo, Cântico, 2ª ed. 
(com  ilustrações de Emeric Marcier, reproduzidas da 1ª ed.), 
Rio de Janeiro: Orfeu, 1969

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