quarta-feira, 27 de junho de 2012

A FLOR


 
Foi um golpe de mestre. Gostaria mesmo de dizer que fui genial. Não aceitei a oferta de uma flor porque me convenci que eu não estava ali. Por vezes gosto de imaginar que superei a vida. É uma ilusão bonita e agradável. Ali estava eu, sentado, como se me encontrasse no reino dos bem-aventurados. O outro, porque estava vivo e não podia escapar aos imperativos da existência, pediu à rapariga a flor que ela tinha na mão, e ela ofereceu-lhe a flor sem hesitar. Foi com grande talento que continuei ali gentilmente sentado, como quem não tem qualquer importância. Representava o papel da personagem ausente.
[...]

 
Robert Walser
 

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