sábado, 16 de junho de 2012

P de Poética (XXIV)

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Nasci em Maceió, uma pequena cidade marítima e lagunar do nordeste brasileiro, e a paisagem nativa se casava plenamente à paisagem dos romances afortunados. Diante de mim estava sempre o mar, com as suas vagas sucessivas, os navios que convidavam à partida e à evasão, e um branco farol vigilante no alto de uma colina. A realidade e a imaginação se fundiam no instante milagroso. Assim, desde cedo aprendi que a única verdade do homem é a verdade de sua imaginação, esteja ela guiando a mão de um escritor ou a ambição de um menino.
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Naquele momento, aprendi que a poesia é filha da realidade e da materialidade e impureza do mundo visível, mas só através da criação poética o mundo pode ser desvelado. Aos poetas, como aos demais criadores, cabe a tarefa ou a missão de proceder à visibilidade do universo. A poesia é uma arte de ver - de ver e saber ver o que, mesmo sob os nossos olhos, só pode ser distinguido pelo uso e iluminação da linguagem.
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Lêdo Ivo, "Rumo ao Farol",
in Antologia Poética,
Porto: Edições Afrontamento, 2012

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