segunda-feira, 4 de junho de 2012

I de Inverness (III)

MÁGOAS



Um copo demasiado cheio:
pego na minha cabeça
com ambas as mãos,
cuidadosamente para não entornar.


*


Sem uma morte real na vida
tive de inventar a minha.

Agora construo modelos do meu pai
feitos de fumo e luz.


*


Ele estava desconfortável
por isso pedi à enfermeira
que o soerguesse um pouco.
Morreu uma hora depois.
Costuma acontecer, explicou ela,
depois de lhes mexermos.
Perdoa-me, digo-lhe, junto a ele,
a boca cheia de fel.
 

*


Lembro-me dele
em mangas de camisa e calças de flanela:
 
uma pontada de lado
por ter corrido tanto até casa.


*


A barragem que ele construiu
no riacho cedeu finalmente:
água fria da Escócia
a lançar-se no mar.



Robin Robertson
[Trad. ID]

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